29.3.12

In memoriam

"O homem é o único animal que ri. E é rindo que ele mostra o animal que é."
Millôr Fernandes

No passado dia 27 faleceu Millôr Fernandes, escritor brasileiro multifacetado e cheio, pleno de humor. Uma das muitas referências literárias da minha adolescência. Para saber mais sobre a sua vida e a sua obra, podem consultar a sua página aqui.

28.3.12

Pré-lançamento do Bragatela

«A Demanda de D. Fuas Bragatela» já se encontra em pré-lançamento na Wook e na Bertrand. Chega às livrarias no dia 9 de Abril.

24.3.12

A Demanda em Évora

"A Demanda", pelo Teatro Amador de Pombal, sobe hoje ao palco da SOIR Joaquim António D'Aguiar, em Évora, pelas 21h30, no âmbito do 8.º Março - Mês do Teatro. É fartar vilanagem.
Mais informações sobre o espectáculo podem ser lidas na página do TAP.
Aqui fica um excerto de um texto que escrevi na ocasião da estreia deste espectáculo em Pombal:
"Quando em 2010 fui convidado para escrever uma peça de teatro para o Teatro Amador de Pombal (TAP), a hipótese de levar à cena as aventuras de Fuas Bragatela surgiu naturalmente. A princípio achei a empresa tarefa hercúlea, uma vez que o romance é imenso, cheio de episódios e malhas que interligam toda a sua tecitura. A minha inexperiência teatral, contudo, prestes deu lugar a um fascínio pelas palavras que entretanto, durante o processo, se foram encontrando. O texto, mesmo após uma década, continuava vivo, cheio de vivacidade, alegria, riso e sátira. À experiência dos actores que compõem o TAP juntou-se o saber e o conhecimento do seu encenador, Rui M. Silva, com quem trabalhei e me revelou um outro Fuas Bragatela dentro do romance. A minha personagem renasceu e ganhou vida, como se querem todas as personagens inventadas, e do interior do romance brotou um outro Fuas Bragatela: livre, independente e com vida própria. Nada mais pode querer um escritor do que redescobrir as suas personagens e vê-las a reinventarem-se a si mesmas, plenas de movimento, acções e, principalmente, palavras ditas."
O restante pode ser lido aqui, juntamente com o texto do encenador, Rui M. Silva.

22.3.12

Ecos do Bragatela por terras de Vera Cruz

A 7 de Janeiro de 2003, no Diário de Pernambuco, Marco-Aurélio de Alcântara escreveu estas linhas sobre a primeira edição de «A Demanda de D. Fuas Bragatela»:

"Já é best seller no mercado lisboeta o livro de Paulo Moreiras, escritor moçambicano de 33 anos, mas de tal modo já mestre da novela picaresca ibérica, que mais parece ter nascido na Península.
(A Demanda de D. Fuas Bragatela, Temas e Debates, 2002, 25 euros). Trata-se de narrativa com inigualável sabor, numa linguagem acessível, sem rebuscamentos ou arcaísmos ininteligíveis, e de tal modo escorreita e limpa que parece ter sido escrita num português que ainda é parcialmente falado no interior do Brasil. Ou dos Brasis. Paulo Moreiras viveu na região do Douro, em Portugal, passou por Almada, nos arredores da capital, e hoje mora em Meirinhas, entre Leiria e Pombal.
Dom Fuas Bragatela - o 'Dom' veio depois que, trota e vira-mundos, Bragatela, nascido em Trancoso, voltou a Portugal, com um falso título de físico passado pela Universidade de Salamanca, esta universidade que, ainda hoje, 'a poucos sara e a muitos manca'.
Ele é irmão-gêmeo de Gil Blas Santillane, do Lazarillo de Tormes, de Guzmán de Alfarache e da Celestina - todas personagens do supra-sumo da picardia que, no Brasil, resultou num subproduto: o malandro carioca do morro.
Bragatela viveu a vida de miúdo (puto) de família paupérrima naquele Portugal medieval dominado pelos nobres, fidalgos e burgueses mercantilistas, que enriqueceriam nas ‘carreiras’ das Índias e do Brasil. Seu nascimento foi obscuro: a mãe, rameira, o pai, alfaiate, a avó, herbolária e feiticeira. Ele poderia repetir, como o Guzmán de Alfarache, seu parceiro espanhol:
'Aunque naci sin padres que en mi cuna/ sembrasen las primícias de su oficio/ tuvo mi juventud por padre el vicio/ y mi vida madastra en la fortuna'."

21.3.12

Uma questão de tostões

No passado domingo, na Pública, foi publicada uma crónica de Alexandra Lucas Coelho que atesta bem o investimento cultural que o Brasil está neste momento a realizar com a sua Literatura a nível internacional. Vale a pena ler o texto (disponível aqui) para se perceber como Portugal continua a remar em sentido oposto. Vale a pena ler para perceber também como ainda continua a ser difícil viver da escrita neste belo país à beira-mar plantado. Desde há muito tempo que por aqui existe a mania de não pagar aos escritores quando estes são convidados para promoverem os seus livros. Junte-se a isto os convites para escreverem textos, onde a questão do pagamento está ausente. E depois há ainda as situações caricatas em que os escritores, tendo o seu trabalho publicado e com contrato assinado, continuam sem receber nada. Existe uma tal desfaçatez que ninguém se questiona sobre a importância de pagar a um escritor. E a vida continua. Por aqui campeam os chicos-espertos, os oportunistas, os que se valem do esforço alheio para amealhar uns valentes "tostões". O escritor que se amanhe com a sua vidinha.

1.º capítulo

O primeiro capítulo do romance «A Demanda de D. Fuas Bragatela» já pode ser lido na LeYa Mediabooks.

Pequeno breviário de referências gastronómicas

Para abrir o apetite, eis um punhado de referências gastronómicas em «A Demanda de D. Fuas Bragatela»:

"... pois em bons anos à nossa mesa sempre vinham parar umas boas carnes de porco e uns toucinhos de arregalar os olhos e encher a pança."

"E, mesmo nos maus anos, tínhamos umas réstias de courato ou umas tripas manhosas, guardadas no sal de outros tempos, que deitávamos para alegrar o caldo e reconfortar as entranhas."

"E muito se confessava meu pai, para se redimir, pelas tabernas da terra, entre canadas de zurrapa e moxamadas sardinhas..."

"Sucedeu uma noite ir pescar umas chouriças a casa de quem as tinha penduradas. (...) Mas, por falta de jeito ou por serem tão grandes as ganas de laçar uma chouriça, acabei por partir as telhas e cair com grande estrondo por cima das trempes e da panelada, levando comigo as varas do fumeiro e a desejada chouriçada."

"Entre bordoadas e correrias, gritos e espalhafatos, acabei por comer duas chouriças; tanta era a fome que, enquanto o bordão subia, descansavam as costas e eu dava ao dente."

"... eram presuntos e enchidos, queijos, especiarias e outros cominhos. Havia também, e a granel, sacos de trigo e outros cereais, estremoços, frutas e outros secos."

"... no fresco e na sombra, estavam guardadas arcas com carnes salgadas, talhas de azeite e tonéis de vinho adocicado que perfumavam o ar."

"Mais tarde, pela estrada, apercebendo-se da esganada vozearia que estrebuchava na minha barriga, Zafar deu-me uns figos secos para enganar a malvada"

"Um aroma de carne assada assaltou-me os narizes e encheu-me a barriga."

"Estuguei o passo, (...) e qual não foi o meu espanto quando mirei o mouro moinante a roer a perna de um anho em alegre borregada com o vendeiro..."

"... eu mordiscava uns presuntos e bebia um vinho muito adocicado..."

"Um dia, (...) apanhou-me a alambazar-me nuns queijos de cabra curados que eram para seguir para Penedono."

"... depois de comer uns caldinhos, por sinal muito minguados, de galinha gorda..."

"... era bem guarnecida de carnes, como se querem as galinhas e as sardinhas..."

"... fiquei tão talante de comer que num ápice devorei a parte que me tocou do capão..."

"Bebemos umas canadas, (...) e petiscámos uns couratos."

"Lançou os olhos pelos ganhões e malteses, (...) e após beber uns brancos velhos dirigiu-se a meu pai."

"Para o caminho, um saco de broa e toucinho."

"Assámos uns nacos de carne com pimentos..."

"... na última noite tivera a ousadia de ir entregar uma palangana de assaduras à tenda d’el-rei..."

20.3.12

Provérbios & Ditos de D. Fuas Bragatela

Eis aqui um pequeno conjunto de alguns provérbios e ditos do Bragatela que podem ser encontrados no romance:
  1. "toda a criatura nasce com sua ventura"
  2. "a coberto da noite, que sempre foi boa manta para amores e pecadores"
  3. "não importa quem somos ou o que somos, o fado é sempre o mesmo, que quando nascemos apenas começamos a morrer"
  4. "a quem muitos burros quer pegar, algum fica para trás"
  5. "isto de parentes são mais as dores do que os dentes"
  6. "esquecendo-se de que tinham rabos de palha e de que o lume andava perto; se não os queimasse hoje talvez ardessem amanhã"
  7. "comigo ninguém tira palha sem levar resposta"
  8. "que já lhe sabia onde andava às ginjas"
  9. "como cão por vinha vindimada"
  10. "não há pecado que não tenha remissão"
  11. "quem não trabuca não manduca"
  12. "Danadas são as perguntas que sempre trazem na albarda dois tipos de resposta: ou boas ou más."
  13. "más fadas te fadaram"
  14. "à falta de capão, (...) cebola e (...) pão"
  15. "não há porco que não chegue ao São Martinho"
  16. "Tudo se ensina e tudo se aprende."
  17. "o mofar tem resposta"
  18. "antes escorregar dos pés do que da língua"
  19. "D. Dinheiro quando aparece vem a pé mas quando parte é a cavalo."
  20. "Depois do mel sempre vem o fel."
  21. "quem cedo madruga, Deus ajuda"
  22. "pertencem os dedos à mão, mas não são todos iguais"
  23. "o Diabo é grande e ninguém o quer ver"
  24. "a barriga faz andar as pernas"

15.3.12

Os provérbios do Bragatela

Sempre fui apaixonado pela obra de Pieter Bruegel. Aquando da primeira edição do Fuas Bragatela sugeri que a capa tivesse algo relacionado com a sua pintura. Para a capa foi escolhido um pormenor do quadro O Regresso dos Rebanhos (1565), num primoroso trabalho de António Rochinha Diogo. Para esta nova edição voltei a insistir no mesmo pintor e a escolha não poderia ter sido mais feliz: Os Provérbios Flamengos (1559). Através desta capa, e das suas referências a provérbios, estabelece-se uma relação de intertextualidade, uma vez que muitos desses mesmos provérbios se encontram no corpo do texto, seja pelas acções das personagens, seja pelo contexto da narrativa. Um casamento feliz e uma espécie de trompe-l’oeil entre o autor e o leitor. Parabéns a Joana Tordo por este fantástico trabalho.

Nova edição de A Demanda de D. Fuas Bragatela



Em Abril chegará às livrarias a reedição do romance «A Demanda de D. Fuas Bragatela» (Casa das Letras/LeYa), estreia de Paulo Moreiras no romance e considerado pelo crítico Miguel Real como a Revelação da década no romance histórico (Jornal de Letras). O romance «A Demanda de D. Fuas Bragatela» foi publicado em 2002 e há muito que se encontrava esgotado. A edição que agora chega aos escaparates foi revista, corrigida e ligeiramente aumentada pelo autor, assinalando assim dez anos sobre a sua primeira edição. Ainda no âmbito desta celebração, o Teatro Amador de Pombal levou à cena uma adaptação do romance, intitulada «A Demanda», com encenação de Rui M. Silva, que estreou em Janeiro de 2012 e que agora anda em itinerância.

Sinopse
Nascido em Trancoso no dia em que D. Dinis dava os últimos suspiros, D. Fuas Bragatela estava destinado a ser alfaiate, mas nele outros sonhos fervilhavam. Saiu, por isso, de casa muito novo, serviu a vários amos (com quem nada aprendeu senão os rigores da vida) e, depois de muitas peripécias, acabou a combater na batalha do Salado, donde não trouxe honra nem glória, apenas uma fome dos diabos. Arribou seguidamente a Salamanca, fazendo-se passar por licenciado em Medicina, e regressou à pátria com o cheiro da peste colado às narinas. Mas foi então que descobriu a demanda da sua vida: um dos maiores tesouros da Cristandade…
Num romance que constitui um retrato notável do Portugal medieval — e no qual não faltam alcoviteiras que fabricam hímenes, clérigos que vendem pedaços de céu, meirinhos corruptos, estalajadeiros manhosos, donzelas a transbordar de carnes e rapagões esfomeados — . Paulo Moreiras oferece-nos as irresistíveis aventuras de uma personagem quixotesca, na qual existe um pouco de todos nós, portuguesinhos à beira-mar plantados.




14.3.12

Diário de bordo

Eis uma tentativa de sistematização do meu trabalho. Irei tentar, em jeito de diário de bordo, ir dando conta das minhas aventuras.
Vale