30.11.15

Tinto no Branco - Festival Literário de Viseu

No próximo fim-de-semana participarei no Tinto no Branco – Festival Literário de Viseu, no Solar do Vinho do Dão, onde irei falar sobre «Contos, lendas e facécias do Vinho», entre outras coisas. Quem puder, apareça.
Toda a programação aqui.


26.10.15

O Almanaque Borda d’Água

O Almanaque Borda d’Água é, talvez, a mais antiga publicação do género em Portugal. Anualmente são vendidos milhares de exemplares aos agricultores e demais interessados de todo o país, que religiosamente o seguem. «Nunca falha», afirmam alguns dos seus leitores.
Certo dia perguntaram ao poeta leiriense Afonso Lopes Vieira qual era o seu livro de cabeceira. Com o humor que lhe era reconhecido respondeu: «O Almanaque Borda d’Água».
Tal era a fama desta publicação, lida e desejada por letrados, agricultores e demais interessados em saber as luas, as marés ou outras importantes informações agrícolas e meteorológicas, que ao longo dos anos o Almanaque Borda d’Água almejou que hoje é difícil conseguir definir qual a data da sua primeira edição. Perde-se nos tempos e na memória.
O exemplar mais antigo que tive oportunidade de consultar é do ano de 1851, impresso em Coimbra pela Imprensa da Universidade e propriedade da viúva de Lourenço João Bernardo. Nesse tempo já ele era apelidado de «o verdadeiro e mais antigo Borda d’Agua», mas com outro nome à cabeça: «Lunario, Prognostico e Diario» (edição de 1858), escrito por «Antonio de Sousa, astronomo lusitano, um maltez da Borda d’Água e Beira» e considerada uma «obra utilissima, segundo as regras astronomicas, aos lavradores, pescadores, pomareiros, hortelões, jardineiros e caçadores». Ainda no frontispício uma quadra alertava os leitores para a veracidade da publicação:

«Acautelae-vos, Freguezes,
De quem vos quer enganar;
Só eu sou o verdadeiro,
O Borda d’Agua sem par».

Tais indicações pressupõem que a publicação era muito anterior à data de 1851. Como era um folheto que muito se vendia, bastas também foram as edições fraudulentas que se editaram, estando o verdadeiro editor alerta e avisando os seus fregueses.
Vendia-se, naqueles tempos, na Rua das Fangas, em Coimbra, na loja da viúva de Lourenço João Bernardo, onde também se vendiam «livros, novellas, tragedias de todas as qualidades, comedias entremezes, e historias curiosas», em Braga, Lamego, Mangualde, Trancoso, Viseu, aos cuidados do «cego Bonifacio José dos Sanctos», em Aveiro «e em todas as feiras, aonde elle se achar». E assim foi durante muito e muitos anos, disseminando-se por todo o Portugal, de lés a lés.
Com o passar dos anos o Almanaque Borda d’Água foi sofrendo alterações, tanto a nível gráfico, tamanho e qualidade de papel, como de boneco, característica essa que bem o identificava perante os leitores, muitos deles analfabetos, que o davam a ler a quem soubesse, para que lhes dessem conta das informações nele contidas.
Até aos anos sessenta, pelo menos, continuou a ser publicado em Coimbra, sendo nesta temporada pertença de Manuel Teixeira, primeiro, e depois sua filha, Deolinda Teixeira, que continuou a publicar o Borda d’Água.
Numa edição para o ano de 1940 surge já como «Repertório», designado como o «mais antigo e mais acreditado». Também no seu frontispício se inserem duas estrofes versejadas, uma delas carregada com um teor nacionalista, bem ao jeito da época:

«Tenho honra em ter nascido
Neste belo Portugal.
Dele já fala o mundo inteiro
Por ter progresso e dinheiro
E um Govêrno sem igual.»

Pouco tempo depois, conta-se, não há provas concretas, terá existido uma edição do Almanaque Borda d’Água que foi apreendida pela PIDE e os seus editores a braços com uma série de problemas. O problema teria sido causado pelas citações de carácter generalista, que habitualmente compunham as páginas, terem sido trocadas por citações de Lenine, Marx e Engels. Contam os editores que desconheciam essas mesmas frases, outros apontam os tipógrafos como os autores do acto revolucionário. A edição ficou suspensa, mas desde há alguns anos a esta parte, novamente começou a ser publicado, desta feita em Lisboa, como Borda d’Água – O Verdadeiro Almanaque, Reportório útil a toda a gente.
E foi, durante muito tempo, o governo da casa e de muitas famílias, principalmente de agricultores, que por ele se guiavam para as sementeiras, enxertias e podas, entre outros úteis e importantes conselhos.
Para muitos, comprar o Almanaque Borda d’Água era uma verdadeira tradição de família, pois sempre um exemplar existia em casa ou já o pai comprava todos os anos. Disso dá conta o prólogo, na edição do ano 1940, em que diz: «E é tão grande o conceito de que gosa esta acreditada folhinha, tão afamada a sua orientação e a veracidade das suas informações, que raras são as famílias portuguêsas que se dispensam de possuir êste Borda d’Agua, o mais barato de quantos se publicam em Portugal.»
No entanto, o Almanaque Borda d’Água não era só utilizado para consulta. Em tempos mais remotos, quando os calendários não existiam com a profusão dos dias de hoje, certas famílias usavam-no como registo e diário de vários factos e acontecimentos, principalmente, ligados à família, como o falecimento ou nascimento de um parente. De geração para geração se transmitia o passado e o registo familiar.

Obs: este texto é uma versão melhorada e reduzida, de um artigo publicado originalmente no Jornal de Leiria, suplemento Viver, em 2001.

Paulo Moreiras

Prémios

O filme de promoção turística «Região de Leiria - Terra de Maravilhas», em que sou o autor do guião, foi galardoado com dois prémios na 8.ª edição do ART&TUR - Festival Internacional de Cinema Turístico, em Gaia, arrecadando o galardão máximo, o «Grande Prémio para o Melhor Filme Português», bem como o «Melhor Filme» na categoria «Destinos Turísticos». Este filme foi realizado pela Slideshow para a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria.


Sobre  o ART&TUR - Festival Internacional de Cinema Turístico pode ler aqui.

16.10.15

«Memórias de um médico esquecido»

Memórias de um médico esquecido é o primeiro livro de Amadeu da Cunha Mora, numa edição de autor, publicado em 1947, e enriquecido com as ilustrações de Trilho y Blanco. É uma obra dedicada «ao médico rural, o esforçado cavaleiro da saúde, cuja inglória odisseia ainda está por escrever», como explica o próprio na entrada do livro.
Médico, jornalista, dramaturgo, Amadeu da Cunha Mora nasceu em Pombal em Novembro de 1901, tendo exercido medicina nesta cidade. Fundou e dirigiu o jornal Terra Mãe, foi redactor principal do Notícias de Pombal e cronista no jornal O Eco, onde assinou a coluna À Ponte Pedrinha, entre 1946 e 1950. Escreveu também diversos artigos médicos em revistas da especialidade e em periódicos nacionais. Sob o pseudónimo Fernando Pacheco escreveu artigos para a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.


Ao abrir as Memórias de um médico esquecido o autor alerta o leitor sobre a origem de algumas das suas crónicas: «O culto pela verdade leva-me ainda a prevenir o leitor descuidado de que nem todos os factos que relato são a tradução de autênticos acontecimentos, em que, porventura, desempenhei o papel de primeiro actor». Ao longo de pequenas histórias, o autor vai desfiando um rol de episódios caricatos e caricaturais sobre as suas vivências como médico de província, num registo cheio de humor e vivacidade. Os títulos das suas histórias são, em si mesmas, já um prenúncio da mordacidade que o autor imprime às suas crónicas. A título de exemplo: O Bomba de Choque; Maria dos Anjos, a neurasténica; A Inácia Funga; O Nabo Careca ou O Sousa esticou.
«Embora desmemoriado, vou colher a essa amálgama informe de recordações, alguns tipos que me saíram ao caminho, não como ladrões de estrada, que, de arcabuz, me exigissem a carteira, mas como cidadãos ordeiros e pacatos, e que são, na aguarela corrida da minha passagem pelo Mundo, outras tantas pinceladas de emoção e originalidade», assim define o autor a forma como algumas das personagens entram nos seus relatos.
O livro de Cunha Mora conheceu posteriormente uma edição em castelhano, em 1950, com o título Memorias de un medico olvidado, (Madrid). Também nesse ano, Cunha Mora volta a publicar um livro sobre as suas aventuras médicas, Deixe ver a língua (Coimbra, 1950).
Amadeu da Cunha Mora veio a falecer em Abril de 1984, em São Paulo, Brasil, onde foi fundador da Sociedade Brasileira de Sexologia, à qual esteve ligado durante dez anos.
«Como os vinhos, que, envelhecendo, se enriquecem de éteres perfumados e subtis, assim as minhas obras poderão valorizar-se na poeira dos séculos… Fica-me esta esperança!»

Paulo Moreiras

6.10.15

Festival Terras d'Aire e Candeeiros 2015


No próximo sábado, dia 10 de Outubro, estarei perto de Alvados, na Quinta da Escola, na Serra de Aire e Candeeiros, para falar sobre Pão & Vinho. É a partir das 19h30, em jeito de acepipe para o repasto que se segue. Pelas 14h30, realiza-se um Workshop de pão caseiro e merendeiras (Belmira Paixão e Belmira Pires). Apareçam.

Mais informações e inscrições aqui.

21.9.15

Pão & Vinho em Setúbal


MUITO CÁ DE CASA | Na próxima sexta-feira, pelas 22h00, estarei na Casa da Cultura, em Setúbal, para falar sobre o Pão & Vinho, com a colaboração de Joana Vida, enóloga da adega Venâncio da Costa Lima, Lda. Haverá uma prova de vinhos. Apareçam.

10.9.15

Dos Modos Nascem Coisas - Festival de Fazedores de Artes


Nos próximos dias 11, 12 e 13 de Setembro irei participar no albergAR-TE 2015, Dos Modos Nascem Coisas - Festival de Fazedores de Artes, em Albergaria-a-Velha, na Alameda 5 de Outubro.


Dos Modos Nascem Coisas - Festival de Fazedores de Artes, assenta numa plataforma de divulgação e formação das artes e dos ofícios, onde o público convive com artistas e criadores, emergentes e/ou de referência em diversas áreas artísticas, do teatro ao circo contemporâneo, das artes-plásticas ao artesanato tradicional e contemporâneo, do vídeo à música, cinema e literatura, propondo um confronto de opções artísticas no sentido de cativar novos públicos não habituados às criações artísticas mais contemporâneas.

Mais informações aqui.

8.6.15

Feira do Livro de Lisboa

No próximo sábado, dia 13 de Junho, a partir das 15h00, estarei na Praça LeYa, para uma sessão de autógrafos e uns dedos de prosa. Entre os romances também haverá Pão & Vinho sobre a mesa. Apareçam.

10.4.15

As palavras

"O que importa é que as palavras, em contexto ficcional, nunca são neutras. São ultravibráteis. Ao menor movimento, ressoam. São caprichosas, sensíveis a cada minuto que passa, a cada relance de luz. Não é indiferente lê-las numa página amarelada, numa página de brancura rasa, ao alto da folha, em baixo. A própria grafia implica uma ligeira alteração de tom. As palavras são volúveis. Vêm de contrabando, estabelecem-se, envelhecem, desaparecem. Às vezes morrem, outras vezes ficam adormecidas e são despertadas pelo beijo mágico de algum príncipe das letras, que pode ser um humilde jornalista. Pulsam, ecoam, modulam a sua própria ressonância. Reverberam, espalham reflexos para todo o lado. São rebeldes, desapertam as cordas, esgueiram-se das clausuras. São leves e aéreas. São pesadas como tanques. Abismam-se, ampliam-se, encolhem-se. Redimensionam-se. São como o deus grego Proteu, sempre a mudar de forma e mesmo de género («mha senhor», dizia-se antes de «senhora» assumir o feminino). A mesma palavra, como se refere no Crátilo, de Platão, pode estar no Olimpo, na companhia dos deuses, ou na rua, entre a gentalha mais desordeira. A palavra depende sobretudo das companhias."

Mário de Carvalho, in Quem Disser o Contrário é Porque tem Razão, p.224

23.2.15

Folclóre Pornográfico da Figueira da Foz

Na passada sexta-feira estive na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz como convidado das 5as de Leitura que aquela biblioteca promove todos os meses.

Como ando às voltas com umas pesquisas literárias pensei chegar mais cedo para assim dispor de algum tempo livre para me dedicar aos livros e procurar o que tanto desejo encontrar. E em boa hora o fiz, pois no meio destas deambulações deram os meus olhos com este pequena preciosidade, «Folclóre Pornográfico da Figueira da Foz» (1914), numa edição fac simile de 2007, que me tinha passado completamente despercebida.


Embora de autor anónimo, crê-se que a mesma se deva ao labor de Cardoso Marta e Augusto Pinto que, curiosamente, tinham editado precisamente o «Folclore da Figueira da Foz» (1911 e 1913), em dois volumes. Curiosamente porque tanto uma como a outra obra revelam semelhanças na tipologia dos textos. Por aqui se encontram diversos exemplos de recorte picante e assaz brejeiro sobre o cancioneiro, adivinhas, superstições, adagiário, costumes, entre muitas outras pérolas.

A título ilustrativo do «Folclóre Pornográfico da Figueira da Foz» aqui fica uma amostra:

                                               Atirei c'um jafo ao ar
                                               e o jafo no ar morreu;
                                               inda agora me estou rindo
                                               das voltas que o jafo deu.

16.2.15

5as de leitura com Pão & Vinho


Na próxima sexta-feira, dia 20, pelas 21h30, estarei nas 5as de leitura na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, para uma conversa sobre o Pão & Vinho, entre outras curiosidades.

5.2.15

Pão & Vinho em Aveiro


No próximo dia 14, sábado, irei estar na Latina - Adega, em Aveiro, a partir das 17h00, para uma conversa e prova de vinhos das Caves São João e uma selecção de pães artesanais, tendo como mote o «Pão & Vinho - mil e uma histórias de comer e beber».
A Latina - Adega fica na R. Dr. Alberto Souto, 22a, em Aveiro.
Mais informações, aqui, na sua página de Facebook.

26.1.15

Prémio Gourmand para «Pão & Vinho»



O livro «Pão & Vinho – mil e uma histórias de comer e beber», de Paulo Moreiras, editado em 2014 pela Dom Quixote, foi contemplado com o prémio Gourmand “Best Drink Writing”, na categoria “Livros sobre Vinhos e Bebidas”, atribuído por um júri internacional do concurso Gourmand World Cookbook Awards 2015.

Paulo Moreiras já havia sido distinguido em 2007, pelo seu livro «Elogio da Ginja», com dois prémios: “Best Single Subject Cookbook” e “Best Cookbook Photography”. Em 2010, o seu romance «Os Dias de Saturno» também foi distinguido com um prémio Gourmand na categoria “Best Culinary History Book”.


Os prémios Gourmand, considerados os óscares da literatura gastronómica, distinguem os melhores livros editados em 2014 na temática de vinhos e gastronomia, a nível nacional e internacional.

Com este prémio, o livro «Pão & Vinho – mil e uma histórias de comer e beber» passa à fase seguinte do concurso, onde irá competir a nível internacional com os vencedores nestas categorias para o prémio The Best in the World. Os resultados serão anunciados em Junho, numa cerimónia a realizar em Yantai, China.

13.1.15

Aprender a fazer pão


No próximo dia 24 de Janeiro, sábado, vou participar nesta oficina de aprender a fazer pão caseiro. Vai ser em Alvados, Porto de Mós. Após o almoço, pelas 15h00, irei contar algumas histórias sobre Pão & Vinho. Para saber mais escrevam para flordaserra@clix.pt ou liguem para os telefones 244 441 159 / 964 702 400.