29.3.12
In memoriam
28.3.12
Pré-lançamento do Bragatela
24.3.12
A Demanda em Évora
22.3.12
Ecos do Bragatela por terras de Vera Cruz
"Já é best seller no mercado lisboeta o livro de Paulo Moreiras, escritor moçambicano de 33 anos, mas de tal modo já mestre da novela picaresca ibérica, que mais parece ter nascido na Península.
(A Demanda de D. Fuas Bragatela, Temas e Debates, 2002, 25 euros). Trata-se de narrativa com inigualável sabor, numa linguagem acessível, sem rebuscamentos ou arcaísmos ininteligíveis, e de tal modo escorreita e limpa que parece ter sido escrita num português que ainda é parcialmente falado no interior do Brasil. Ou dos Brasis. Paulo Moreiras viveu na região do Douro, em Portugal, passou por Almada, nos arredores da capital, e hoje mora em Meirinhas, entre Leiria e Pombal.
Dom Fuas Bragatela - o 'Dom' veio depois que, trota e vira-mundos, Bragatela, nascido em Trancoso, voltou a Portugal, com um falso título de físico passado pela Universidade de Salamanca, esta universidade que, ainda hoje, 'a poucos sara e a muitos manca'.
Ele é irmão-gêmeo de Gil Blas Santillane, do Lazarillo de Tormes, de Guzmán de Alfarache e da Celestina - todas personagens do supra-sumo da picardia que, no Brasil, resultou num subproduto: o malandro carioca do morro.
Bragatela viveu a vida de miúdo (puto) de família paupérrima naquele Portugal medieval dominado pelos nobres, fidalgos e burgueses mercantilistas, que enriqueceriam nas ‘carreiras’ das Índias e do Brasil. Seu nascimento foi obscuro: a mãe, rameira, o pai, alfaiate, a avó, herbolária e feiticeira. Ele poderia repetir, como o Guzmán de Alfarache, seu parceiro espanhol:
'Aunque naci sin padres que en mi cuna/ sembrasen las primícias de su oficio/ tuvo mi juventud por padre el vicio/ y mi vida madastra en la fortuna'."
21.3.12
Uma questão de tostões
1.º capítulo
Pequeno breviário de referências gastronómicas
"... pois em bons anos à nossa mesa sempre vinham parar umas boas carnes de porco e uns toucinhos de arregalar os olhos e encher a pança."
"E, mesmo nos maus anos, tínhamos umas réstias de courato ou umas tripas manhosas, guardadas no sal de outros tempos, que deitávamos para alegrar o caldo e reconfortar as entranhas."
"E muito se confessava meu pai, para se redimir, pelas tabernas da terra, entre canadas de zurrapa e moxamadas sardinhas..."
"Sucedeu uma noite ir pescar umas chouriças a casa de quem as tinha penduradas. (...) Mas, por falta de jeito ou por serem tão grandes as ganas de laçar uma chouriça, acabei por partir as telhas e cair com grande estrondo por cima das trempes e da panelada, levando comigo as varas do fumeiro e a desejada chouriçada."
"Entre bordoadas e correrias, gritos e espalhafatos, acabei por comer duas chouriças; tanta era a fome que, enquanto o bordão subia, descansavam as costas e eu dava ao dente."
"... eram presuntos e enchidos, queijos, especiarias e outros cominhos. Havia também, e a granel, sacos de trigo e outros cereais, estremoços, frutas e outros secos."
"... no fresco e na sombra, estavam guardadas arcas com carnes salgadas, talhas de azeite e tonéis de vinho adocicado que perfumavam o ar."
"Mais tarde, pela estrada, apercebendo-se da esganada vozearia que estrebuchava na minha barriga, Zafar deu-me uns figos secos para enganar a malvada"
"Um aroma de carne assada assaltou-me os narizes e encheu-me a barriga."
"Estuguei o passo, (...) e qual não foi o meu espanto quando mirei o mouro moinante a roer a perna de um anho em alegre borregada com o vendeiro..."
"... eu mordiscava uns presuntos e bebia um vinho muito adocicado..."
"Um dia, (...) apanhou-me a alambazar-me nuns queijos de cabra curados que eram para seguir para Penedono."
"... depois de comer uns caldinhos, por sinal muito minguados, de galinha gorda..."
"... era bem guarnecida de carnes, como se querem as galinhas e as sardinhas..."
"... fiquei tão talante de comer que num ápice devorei a parte que me tocou do capão..."
"Bebemos umas canadas, (...) e petiscámos uns couratos."
"Lançou os olhos pelos ganhões e malteses, (...) e após beber uns brancos velhos dirigiu-se a meu pai."
"Para o caminho, um saco de broa e toucinho."
"Assámos uns nacos de carne com pimentos..."
"... na última noite tivera a ousadia de ir entregar uma palangana de assaduras à tenda d’el-rei..."
20.3.12
Provérbios & Ditos de D. Fuas Bragatela
- "toda a criatura nasce com sua ventura"
- "a coberto da noite, que sempre foi boa manta para amores e pecadores"
- "não importa quem somos ou o que somos, o fado é sempre o mesmo, que quando nascemos apenas começamos a morrer"
- "a quem muitos burros quer pegar, algum fica para trás"
- "isto de parentes são mais as dores do que os dentes"
- "esquecendo-se de que tinham rabos de palha e de que o lume andava perto; se não os queimasse hoje talvez ardessem amanhã"
- "comigo ninguém tira palha sem levar resposta"
- "que já lhe sabia onde andava às ginjas"
- "como cão por vinha vindimada"
- "não há pecado que não tenha remissão"
- "quem não trabuca não manduca"
- "Danadas são as perguntas que sempre trazem na albarda dois tipos de resposta: ou boas ou más."
- "más fadas te fadaram"
- "à falta de capão, (...) cebola e (...) pão"
- "não há porco que não chegue ao São Martinho"
- "Tudo se ensina e tudo se aprende."
- "o mofar tem resposta"
- "antes escorregar dos pés do que da língua"
- "D. Dinheiro quando aparece vem a pé mas quando parte é a cavalo."
- "Depois do mel sempre vem o fel."
- "quem cedo madruga, Deus ajuda"
- "pertencem os dedos à mão, mas não são todos iguais"
- "o Diabo é grande e ninguém o quer ver"
- "a barriga faz andar as pernas"
15.3.12
Os provérbios do Bragatela
Nova edição de A Demanda de D. Fuas Bragatela
Em Abril chegará às livrarias a reedição do romance «A Demanda de D. Fuas Bragatela» (Casa das Letras/LeYa), estreia de Paulo Moreiras no romance e considerado pelo crítico Miguel Real como a Revelação da década no romance histórico (Jornal de Letras). O romance «A Demanda de D. Fuas Bragatela» foi publicado em 2002 e há muito que se encontrava esgotado. A edição que agora chega aos escaparates foi revista, corrigida e ligeiramente aumentada pelo autor, assinalando assim dez anos sobre a sua primeira edição. Ainda no âmbito desta celebração, o Teatro Amador de Pombal levou à cena uma adaptação do romance, intitulada «A Demanda», com encenação de Rui M. Silva, que estreou em Janeiro de 2012 e que agora anda em itinerância.
Sinopse
Nascido em Trancoso no dia em que D. Dinis dava os últimos suspiros, D. Fuas Bragatela estava destinado a ser alfaiate, mas nele outros sonhos fervilhavam. Saiu, por isso, de casa muito novo, serviu a vários amos (com quem nada aprendeu senão os rigores da vida) e, depois de muitas peripécias, acabou a combater na batalha do Salado, donde não trouxe honra nem glória, apenas uma fome dos diabos. Arribou seguidamente a Salamanca, fazendo-se passar por licenciado em Medicina, e regressou à pátria com o cheiro da peste colado às narinas. Mas foi então que descobriu a demanda da sua vida: um dos maiores tesouros da Cristandade…
Num romance que constitui um retrato notável do Portugal medieval — e no qual não faltam alcoviteiras que fabricam hímenes, clérigos que vendem pedaços de céu, meirinhos corruptos, estalajadeiros manhosos, donzelas a transbordar de carnes e rapagões esfomeados — . Paulo Moreiras oferece-nos as irresistíveis aventuras de uma personagem quixotesca, na qual existe um pouco de todos nós, portuguesinhos à beira-mar plantados.
14.3.12
Diário de bordo
Vale